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1º de abril de 1964: O golpe não foi de mentira, a ditadura foi verdadeira

Leia o artigo do bancário Nelson Antônio Fazenda sobre o motivo real para o golpe de Estado aplicado contra nosso povo brasileiro há 61 anos. O autor é formado em Engenharia Mecânica pela Universidade de Passo Fundo, tem 66 anos e trabalhou por 35 anos e meio como bancário no Banco Real e no Banco do Brasil. Atualmente, é integrante da Diretoria do Sindicato dos Bancários de Passo Fundo e Região.



Nesta última terça-feira, 1º de março, completaram-se 61 anos do golpe de Estado impingido ao povo brasileiro em 1964.


Na Conferência Estadual dos Bancários de 2014, perguntei ao palestrante, Juremir Machado da Silva, se não seria mais adequado denominarmos a ditadura como civil-militar, uma vez que parte expressiva da sociedade, notadamente a classe alta, apoiou a ala entreguista das forças armadas no golpe.


O historiador respondeu que, mais do que isso, uma vez que o golpe, a subjugação da democracia e o subsequente autoritarismo contaram realmente com o apoio de boa parte da sociedade, quase que total por parte da imprensa, deveríamos designá-la de ditadura midiática-empresarial-civil-eclesiástica-militar.


DUAS GRANDES “FAKE NEWS: A AMEAÇA DO COMUNISMO E A CORRUPÇÃO


Como justificativa para a derrubada de um governo eleito pelas urnas, o governo militar e seus apoiadores “aplicaram” pelo menos duas grandes mentiras no povo brasileiro: a ameaça do comunismo e a corrupção.


Da mesma forma que o ocorrido com o governo de João Goulart, o de Getúlio Vargas também fora acusado, de forma bastante enfática, de corrupção e de levar o país para o comunismo.


Como veremos abaixo, tratava-se de meros pretextos de que se valeram os EUA e seus serviçais nacionais para angariarem simpatia popular para a derrubada de governos inconvenientes por nacionalistas que eram.


Portanto, como podemos ver, “fake news” não são coisa exatamente nova, dos anos 2000.


PROJETO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO: PARA OS EUA, O PROBLEMA PRIMEIRO


A razão verdadeira, não confessada, para o golpe de 1964 era outra. O grande proprietário de terras e “comunista” (sic), João Goulart, tinha se proposto a retomar o Projeto Nacional de Desenvolvimento (PND) implementado por Getúlio Vargas a partir de 1930.


Ora, esse PND não era benquisto, para usar termo bem ameno, pelos governos dos Estados Unidos.


Por conta de sua postura nacionalista convicta, Getúlio Vargas já sofrera perseguição e pressão brutais, seja dos próprios EUA, seja do grande bando de entreguistas internos, para desistir de seu PND. A pressão foi tal que o levou ao suicídio.


É o linguista e filósofo estadunidense Noam Chomsky quem nos diz que os estrategistas dos governos dos EUA nunca apontaram o socialismo/comunismo como principal problema a ser enfrentado.


Para a plutocracia que manda na democracia dos EUA, o problema primeiro sempre foram os anseios dos povos, anseios que nunca morrem, de trilharem um caminho próprio, de independência e de soberania sobre seu território e suas riquezas.


Ora, se, principalmente países dotados de imensas riquezas como o Brasil, a Argentina, o México, entre outros, passarem a trilhar seu caminho próprio, já não mais poderão fornecer matérias primas e mão-de-obra baratas para as grandes corporações capitalistas dos países ricos.


Para sustentar e fazerem vingar seus PNDs, esses países terão que estabelecer preços justos para a negociação/comercialização das suas riquezas e valorizar seu mercado interno. Assim, ficará impossível fornecer matérias primas a preços vis e braços baratos como sempre desejaram as grandes corporações capitalistas.


A agravar o quadro, ao trilharem seu caminho próprio, em poucas décadas Brasil, Argentina e México ainda poderão se tornar competidores dos países ricos em capacidade industrial e tecnologia. Algo que esses últimos não admitem, abominam.


NÃO MAIS DO QUE PRETEXTOS


Podemos concluir então que o combate à ameaça comunista e à corrupção para justificar a derrubada de governos nacionalistas e populares é apenas um pretexto de que se utilizam os EUA, e os entreguistas de cada país dominado, para apavorarem a população e esconderem seu primeiro temor.


A adoção de um Projeto Nacional de Desenvolvimento por um determinado país é vista como sendo esse primeiro temor, o primeiro grande problema, pelos EUA.


CINCO DÉCADAS DEPOIS, OS MESMOS PRETEXTOS


Passados 52 anos, os Estados Unidos voltariam a patrocinar, com o apoio dos entreguistas de sempre, um golpe de Estado contra o povo brasileiro. Desta vez, derrubariam o governo de Dilma Roussef, do PT, contando com apoio total da mídia hegemônica.


E, à parte as tais “pedaladas fiscais”, que se provaram inexistentes, os pretextos não diferiram dos utilizados contra Getúlio Vargas e João Goulart: corrupção e ameaça comunista.


É de notarmos que o golpe de 2016 se consumou ainda que o que podemos designar de Projeto Nacional de Desenvolvimento, nos governos do PT, possa ser considerado apenas uma pálida reedição do de Vargas ou de Goulart. Talvez possamos até afirmar que era um arremedo de projeto.


CONCLUSÃO: MESMO O DESENVOLVIMENTO NOS MOLDES CAPITALISTAS NOS É PROIBIDO


Nenhum dos três governos, seja o de Getúlio Vargas, seja o de João Goulart ou o do PT, chegou a implantar projeto clara e completamente socialista em seu mandato. Ainda que tenham implantado, em maior ou menor grau, medidas que podem ser consideradas como de cunho socialista, tais governos mantiveram majoritariamente capitalista a linha mestra de funcionamento de suas economias.


A conclusão a que vamos chegar, inevitável, é a de que nem mesmo ao desenvolvimento capitalista nossos países podem chegar. Isto porque, repetindo, se desenvolvermos nossas economias ainda que nos moldes capitalistas, nos tornaremos competidores dos países ricos.


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