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Encontro Nacional do Santander debate intensificação das ações de luta e organização

Com acordo específico assinado com o banco válido até 31 de agosto de 2026, representantes dos trabalhadores relembraram conquistas e reforçaram a necessidade de defender o emprego e denunciar as fraudes de contratação


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Delegados e delegadas de todo o País estiveram reunidos, nesta sexta-feira (22), em São Paulo, para o Encontro Nacional dos Funcionários do Santander. Após um dia todo de debates, que incluiu análises de conjuntura e destaques dos dados e do balanço do banco, os participantes relembraram como foram as negociações no ano passado do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) específico, com validade até 31 de agosto de 2026.“É importante relembrarmos e destacarmos as conquistas nas cláusulas sociais e econômicas obtidas na Campanha Nacional 2024, que constam no ACT específico do Santander e garantem direitos a todos os trabalhadores do banco até o ano que vem”, ressaltou Wanessa de Queiroz, coordenadora da Comissão de Organização dos Empregados (COE) do Santander.


No encontro, também foram debatidas as atividades mobilização, organização e enfrentamento que já foram realizadas nas bases das federações e as ações que ainda são necessárias. “Ao debatermos a grande campanha nacional que já está em curso, em defesa do emprego bancário e denunciando as fraudes de contratação praticadas pelo Santander com as terceirizações, atualizamos o andamento das ações jurídicas e sindicais, bem como sobre as audiências públicas realizadas em todo País”, complementou Wanessa.


Por fim, as propostas de plano de lutas debatidas nos Encontros Regionais e Estaduais foram remetidas para a COE/Santander pautar as próximas negociações.


Rita Berlofa, secretária de Relações Internacionais da Contraf-CUT e funcionária do Santander, "O encontro mostrou que precisamos intensificar nossa luta contra as terceirizações e as contratações fraudulentas, que precarizam o trabalho e reduzem direitos. Além disso, é urgente aprofundarmos o debate sobre os impactos da inteligência artificial, que já vem substituindo postos de trabalho na nossa categoria. Essa realidade traz prejuízos não apenas para os bancários, mas também para toda a sociedade, porque reduz arrecadação de impostos, enfraquece a Previdência e compromete o retorno social que deveria ser garantido pelo sistema financeiro. O Santander não pode continuar crescendo às custas da exploração dos trabalhadores e da retirada de direitos."


 A fraude nas contratações do Santander

O encontro iniciou com a economista e técnica do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Vivian Machado, fazendo uma análise econômica e dos dados do Santander. Na conjuntura nacional, ela destacou os resultados do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, que cresceu 3,4% em 2024, e os dados do mercado de trabalho, que alcançou a menor taxa de desocupação e o maior rendimento médio mensal na sequência histórica.


Apesar dos dados positivos, a economistas lembrou que a taxa de juros (Selic) chegou a 15%, mesmo com uma inflação em 5,35% (acumulada em 12 meses, em junho de 2025). “Com isso, o Brasil chegou ao segundo lugar no ranking de juros reais no mundo, com o maior nível desde junho de 2006”, afirmou. O resultado é uma tendência de aumento do endividamento das famílias, com 78,4% das famílias brasileiras endividadas em junho de 2025. Além disso, o mercado de crédito atingiu um dos maiores valores da história, com cerca de 55% do PIB.


Sobre os números globais do Santander, Vivian ressaltou que o banco obteve, no primeiro semestre de 2025, o melhor resultado trimestral e semestral de sua história, com lucro de 6,8 milhões de euros. “Nesse cenário, a unidade brasileira é a segunda maior contribuinte para os resultados, atrás apenas da matriz na Espanha, com lucro de 996 milhões de euros, ou seja, 14,6% do resultado global”, disse. Já o número de agências globais do banco saiu de 2.446, em 2024, para 1.888, em 2025. “Na Espanha foram fechadas 109 agências nesse período. No Brasil, foram encerradas 558 unidades”, acrescentou.


O resultado nacional do Santander também foi positivo no primeiro semestre, com lucro de R$ 7,520 bilhões no Brasil, um aumento de 18,4% em relação ao mesmo período de 2024. Segundo a técnica do Dieese, o crescimento foi impulsionado pela expansão da margem financeira, que subiu 4,4% em 12 meses, puxada pela alta de 11,3% na margem com clientes. Já na comparação trimestral, houve queda de 3,3% na margem financeira, reflexo da elevação das taxas de juros, parcialmente compensada pelos ganhos com clientes.


Vivian também falou sobre os negócios do banco e apontou a tecnologia como impulsionadora dos resultados, já que Santander aumentou os investimentos nessa área e reduziu os gastos com estrutura. “Os dados mostram um aumento 2,4 vezes nas interações dos clientes com o chatbot, por exemplo. Fato que aumentou em 33% as vendas em lojas e diminuiu 24% os gastos nessas mesmas lojas”, exemplificou.


Na sequência, a economista abordou a queda semestral nas despesas em geral do banco e a consequente melhora no índice de eficiência, que chegou em 36,8%, o melhor índice entre os bancos privados. “O banco alega que houve uma mudança de cultura. O Santander seria um banco que saiu do banco, em que a agência passou a ser loja, o gerente passou a especialista e a receita a comissão”, afirmou.


Com isso, veio o fechamento de pontos de atendimento. Por outro lado, entre 2019 e 2024, o número de trabalhadores no Brasil cresceu 16,4%, passando de 47.819 para 55.646. No mesmo período, as despesas de pessoal do grupo caíram 4,1%. E a despesa média por trabalhador diminuiu 17,6%.“Ou seja, a ampliação do número de trabalhadores no banco Santander se dá fora das agências tradicionais e da categoria bancária. O banco adotou uma estratégia de transferência de trabalhadores do banco para empresas coligadas e controladas”, disse.


Atualmente, o Santander Brasil tem participação em 20 empresas, todas elas classificadas em segmentos fora do ramo financeiro. E obteve resultado de R$ 3,7 bilhões, no primeiro semestre de 2025, com essas empresas.Para finalizar, a economista listou os impactos dessa transferência de trabalhadores promovida pelo banco. “Para os trabalhadores, há precarização nas relações de trabalho, menores remunerações, flexibilização e fragmentação da categoria e prática antissindical que infringe a liberdade sindical e a proteção ao Direito Sindical. Já para a sociedade, há redução do efeito multiplicador da renda, com impacto no consumo e na economia local, e queda na arrecadação do Imposto de Renda, do Fundo de Garantia (FGTS) e no INSS”, encerrou.


Os impactos da IA no sistema financeiro

O segundo debate do Encontro Nacional foi realizado pelo cientista político e professor da Faculdade 28 de Agosto, Moisés Marques, que fez uma análise de conjuntura com o tema “o mundo de ‘ponta cabeça’ e as consequências para o Sistema Financeiro Nacional (SFN)”. Para começar, o professor destacou dois pontos principais neste debate: a fragmentação econômica e financeira e as transformações tecnológicas e seus riscos globais.


No cenário internacional, ele apontou alguns fatos importantes, como a mudança do papel da China no cenário internacional, a possível estagflação nos Estados Unidos, com possibilidade de uma grave crise econômico-financeira, a crise das instituições de governança globais do pós-guerra, a aceleração da transição demográfica e das mudanças ambientais e climáticas e as mudanças oriundas da Inteligência Artificial (IA). “Não podemos deixar de acrescentar a interferência da Gestão Trump em diversas questões globais”, provocou.


Já no cenário nacional, Moisés destacou que a economia tem apresentado dados interessantes e que o Governo Lula começa a ter mais aprovação da população. “O crescimento do País está acima do imaginado, mas a taxa de juros continua alta. Por outro lado, temos a melhor taxa de emprego dos últimos anos, mas Câmara segue criando uma série de dificuldades para o País”, enumerou.


No Sistema Financeiro Nacional, o que se tem visto, ao longo dos anos, é uma drástica redução do número de bancos e o aparecimento dos bancos digitais e das fintechs. “Que são empresas que se dizem bancos, mas não são. Que atuam como se fossem banco e têm tamanho de banco”, ironizou. “Ou seja, as fintechs passaram a ser parte do sistema. Hoje são 1.481 instituições com 100 mil funcionários. Além disso, são empresas que tornaram os processos altamente tecnológicos, sem a necessidade de pessoas”, acrescentou.


O professor também apresentou resultados de pesquisas que mostram o que os bancos querem com a IA, destacando desde a reformulação do setor bancário, a melhora na gestão dos riscos operacionais, a redução dos custos, até o fim dos postos de trabalho. “Diante disso, precisamos refletir sobre os riscos e as questões éticas que estão envolvidas no aumento do uso das tecnologias”, disse.


Para finalizar, Moisés sugeriu como os trabalhadores devem se organizar para enfrentar essa conjuntura: “Precisamos ficar atentos à interconexão entre as grandes questões globais, suas reverberações domésticas e os impactos no Sistema Financeiro. Além disso, precisamos conscientizar a população sobre os resultados dessas mudanças, afinal, o banco do futuro já chegou”, afirmou.


Para ele, é preciso ainda ficar de olho no perfil dos profissionais que estão sendo recrutados e nas formas de contratação, buscar a capacitação dos trabalhadores para lidar com IA e as novas tecnologias, mostrar as vulnerabilidades e os riscos tecnológicos, denunciar os conluios do mercado, participar ativamente das consultas públicas referentes ao setor, ser pedagógico com a população e clientes para alertar sobre as alternativas e acirrar a luta pela regulação do SFN.


Via Contraf


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