Ao menos 40 cidades do Brasil e nove países ao redor do mundo irão se mobilizar entre esta sexta-feira (23) e domingo (25) contra as queimadas e o aumento do desmatamento na região da Amazônia, que cresceram 85% nestes meses de governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL), em comparação com o mesmo período de 2018.
Nesta sexta-feira os atos estão programados para ocorrer em São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA) e Atalanta (SC). No sábado, os atos ocorrem em Belo Horizonte (MG), Manaus (AM), Ribeirão Preto (SP), São Carlos (SP), Porto Velho (RO) e Natal (RN). Já no domingo, novos protestos acontecem no Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG) e Manaus (AM).
Manifestações também estão marcadas para acontecer em ao menos 12 cidades de nove países, entre eles Alemanha, Espanha, Itália, México e Uruguai. No topo dos trending topics do Twitter, internautas também criticam a atuação do presidente brasileiro na #ActForTheAmazon.
Os atos ocorrem após fazendeiros promoverem o que foi batizado como “dia do fogo”, ato coordenado de queimadas ao longo da BR-163, no sudoeste do Pará. Várias cidades foram cobertas por densas nuvens de fumaça, entre elas São Paulo, que escureceu às 15h da segunda-feira (19).
O aumento das queimadas e do desmatamento, impulsionados durante o governo Bolsonaro, gerou insatisfações imediatas, provocando reações contrárias em diversos países. Na quinta-feira (22), o presidente da França, Emmanuel Macron, chegou a chamar uma reunião extraordinária dos países-membros do G7 para discutir o aumento das queimadas.
Em época de seca na Amazônia e em outras zonas de florestas do Brasil, a mata torna-se suscetível a incêndios. Porém, nesse caso específico, o fogo tem origem majoritariamente na ação predatória de fazendeiros, em busca de expansão das áreas de pastagem ou para plantações de soja, por exemplo.
Freio da devastação
Para o professor de Relações Internacionais e Economia da Universidade Federal do ABC (UFABC), membro do grupo Reflexão sobre Relações Internacionais (GR-RI), Giorgio Romano, são os setores financeiros e do agronegócio que deverão “frear” a sanha do presidente Jair Bolsonaro com relação a Amazônia. “Posso estar enganado, mas acho que os interesses econômicos vão se impor”, disse o docente.
De acordo com o professor, longe de se tratar de uma preocupação pela preservação ambiental, esses setores têm interesse principalmente na pauta da exportação, como ocorreu com relação à embaixada brasileira em Israel. Quando o presidente declarou sua disposição de mudar a representação da capital, Tel Aviv, para Jerusalém, não foram os fatores políticos, mas sim econômicos, que pesaram para que ele recuasse da decisão. Garantir seu apoio a Israel era o mesmo que perder o maior mercado brasileiro para a carne bovina brasileira, o dos países muçulmanos.
Cortina de fumaça
Para o presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam), Carlos Bocuhy, o governo de Jair Bolsonaro tenta criar uma “cortina de fumaça diante de sua inação” para combater o desmatamento na Amazônia. Por conta da repercussão negativa internacional sobre o aumento de focos de incêndios na região, Bolsonaro tem levantado suspeitas sobre o trabalho de Organizações Não-Governamentais (ONGs) na região, chegando a insinuar que elas poderiam estar por trás das queimadas.
Apesar de, nos últimos meses, órgãos de monitoramento ambiental apontarem um aumento de desmatamento na Amazônia, como o mais recente boletim do Instituto de Pesquisa Nacional Independente (Imazon), que confirmou a tendência de crescimento da devastação no local, o estopim de toda a crise ambiental ganhou mais destaque na mídia tradicional com a massa de poluição que avançou por pontos de São Paulo, escurecendo o dia. O episódio também serviu para tornar mais evidente o aumento no número de queimadas, que, de acordo com Bocuhy, ocorre em decorrência da falta de fiscalização e do desmantelamento das políticas ambientais promovidas por Bolsonaro.
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