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Foto do escritorWilFran Canaris

“Me senti descartado como lixo”, desabafa bancário demitido pelo Bradesco

“Fomos tratados como lixo (…), sem ética, sem pudor (…) Muitos anos de dedicação. Não me arrependo de nada que fiz, porque foi um eterno aprendizado e isso ninguém tira. Tenho muito a agradecer por tudo e por ter trabalhado numa organização que possibilitou isso. Mas no final deixou um remorso da forma que fomos tratados.”

O desabafo é de um dos quase 700 bancários do Bradesco demitidos em São Paulo nas últimas semanas, em um processo que desrespeitou o compromisso feito pelo próprio banco de não mandar embora no período da pandemia.

A demissão em massa em plena crise sanitária e social, que deixa como efeito colateral 14 milhões de desempregados, instaurou um clima de terror em centros administrativos do Bradesco, como Alphaville e Cidade de Deus.

“Estamos bem apreensivos, morrendo de medo. Todo dia, quando vamos trabalhar, não sabemos se vamos ser os próximos. A gente passa todo dia um abuso moral muito grande. Qualquer coisa eles falam que a gente vai ser demitido. O Bradesco está acabando com a saúde de todos os funcionários”, relata um bancário do Bradesco Financiamentos.

“Desumano”

“No meu departamento todo mundo está muito nervoso. É um departamento muito grande, com extensões em outros estados, e o que a gente percebe é que está todo mundo assustado, com muito medo, e sem um direcionamento. Eu me sinto injustiçada, porque quando viemos para o home office, as metas aumentaram, foi cobrada produtividade para novas demandas, e todo mundo deu o seu melhor para que o banco continuasse lucrando, como vem lucrando. E agora que o banco continua lucrando, fazer demissão em massa é muito triste. É desumano até”, diz um bancário do Departamento de Recuperação de Crédito.

No primeiro semestre de 2020 – período que compreende a pandemia – o banco lucrou R$ 7,626 bilhões, crescimento de 3,2% na comparação com o trimestre anterior. Em 12 meses, foi registrada redução de 40% no lucro, mas isso foi devido ao reforço da chamada Provisão para Devedores Duvidosos (PDD), que é a despesa feita pelos bancos para cobrir possíveis calotes, que cresceu R$ 3,8 bilhões.

Decepção

Se a insegurança é o sentimento que predomina entre os trabalhadores que permanecem, a decepção e a indignação prevalecem entre os que já foram demitidos. Além das dispensas sem justificativa – já que o Bradesco rompeu compromisso de não demitir, e porque o banco segue apresentando lucro mesmo em meio à crise – os demitidos lamentam a forma como as dispensas foram feitas.

“Simplesmente não houve ligação ou aviso do departamento pessoal. Bloquearam meu acesso ao terminal e fui mandado embora por uma colega, falando que o banco estava enxugando o quadro. Me senti decartado como lixo. Não houve contato nenhum com a direção, nenhuma explicação”, relata um bancário que trabalhava em Alphaville.

“A gente foi desligado no dia 16. Eu recebi só um e-mail pedindo para eu levar a minha máquina. E eu tinha alguns documentos pessoais que eu guardava na máquina, comprovante de pagamento, e não deixaram nem eu pegar isso. Falaram que a diretoria proibiu pegar qualquer arquivo. Eu estou muito chateado com a galera do banco. Foram 18 anos, de vida no banco, sempre dando o sangue, quem me conhece sabe o quanto eu me dediquei para sair desse jeito”, protesta outro demitido.

“O banco não olhou pessoas, olhou números e tomou a atitude bem fria, sem nenhum tipo de pudor. Não sei quais os critérios que eles utilizaram, porque a gente estava sempre na ativa trabalhando, trazendo resultado. A gente não entende direito”, diz outra trabalhadora demitida.

Mas se por um lado o Bradesco está demitindo, por outro está anunciando vagas no Linkedin. “Por que não aproveitou os bancários demitidos? O Bradesco foi considerado uma das melhores empresas para se trabalhar no país, segundo levantamento da Época Negócios. Como pode ser a melhor se estão mandado para a rua bancários em plena pandemia?”, questiona a dirigente sindical e bancária do Bradesco Sandra Regina.

Sindicato está denunciando demissões

Desde que as demissões começaram a ocorrer, o Sindicato vem realizando protestos em agências e denunciando à população a atitude do banco de demitir em plena crise sanitária e social causada pela pandemia.

Fonte: SPBancários

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